Caminhos de espiritualidade: cultura de paz, não-violência, mística, autoconhecimento, compaixão e cuidado pelos seres e pela terra

27 de jul. de 2012

Novo lar: Espaço Terapêutico Dança da Realidade

Olá queridos caminhantes,
Agora estamos com uma nova página, o blog do nosso Espaço Terapêutico!
Para saber mais, acessem:

http://www.espacodancadarealidade.com

29 de jun. de 2011

Sidarta - Hermann Hesse



Trecho do livro Sidarta de Hermann Hesse. Para ver o pdf clique aqui.

"Durante muito tempo, meses a fio, Sidarta prosseguiu esperando que o menino o compreendesse, que aceitasse o seu amor, que talvez o retribuísse. Meses a fio, Vasudeva nutria a mesma esperança. Aguardava em silêncio, observando o pai e o filho. Certa feita, quando o menino Sídarta mais uma vez magoara o pai com sua obstinação e seus caprichos, chegando a quebrar propositadamente duas tigelas de arroz, Vasudeva aproveitou a noite para falar com o amigo em separado.

— Não me leves a mal — disse — que eu trate dessas coisas. Faço-o como teu amigo. Vejo como te atormentas. Noto que andas tristonho. Meu caro, teu filho te preocupa, e a mim, me preocupa também. Aquele passarinho está acostumado a viver outra vida, num ninho diferente. Não abandonou a riqueza e a cidade por tédio e nojo, como tu o fizeste. Teve de largar tudo isso a contragosto. Olha, meu amigo, já consultei o rio. Consultei-o muitas vezes. Mas o rio limita-se a rir, rir de mim, de mim e de ti também, dá gargalhadas em face da nossa tolice. A água corre para a água. A juventude procura a juventude. Teu filho não se encontra no lugar que lhe convém. Seria bom se tu tamm consultasses o rio. Faze o que ele te sugerir.

Emocionado, Sidarta examinou o rosto do amigo, esse rosto em cujas inúmeras rugas se escondia inalterável serenidade.

Mas, serei capaz de separar-me dele? — respondeu em voz baixa. — Concede-me mais um pouco de tempo, meu caro! Estás vendo como luto, como me esforço por conquistar o coração do menino, pelo carinho, pela paciência, pela doçura, É assim que quero aliciá-lo. Tomara que o rio um dia dirija a sua palavra também a ele. Esse menino tem a mesma vocação que nós.

O sorriso de Vasudeva tornou-se ainda mais caloroso.

— Ah, sim! Também ele tem vocação. Também ele é parte da vida eterna. Mas que sabemos nós, tu e eu, do destino que o aguarda, do caminho que lhe caberá trilhar, das ações que ele deverá realizar e dos sofrimentos que o acometerão? Os des gostos que lhe estão reservados não serão pequenos, uma vez que o coração desse rapaz é duro e altivo. Pessoas da sua espécie têm de padecer muitas amarguras, já que erram freqüentemente, cometem graves pecados e carregam muita culpa na sua consciência. Dize-me uma coisa, meu amigo: não dás nenhuma educação a teu filho? Não lhe impões a tua vontade? Não o surras nunca? Não o castigas?

—. Não, Vasudeva, não faço nada disso.

— Pois é! Não o obrigas a nada; não bates nele; não lhe dás nenhuma ordem, porque sabes que a meiguice é mais forte do que a dureza e a água mais forte do que o rochedo. Muito bem! Aprovo a tua conduta. Mas não te enganas a ti mesmo, quando pensas que não exerces coação alguma sobre ele e não lhe infliges nenhum castigo? Não o agrilhoas pelo teu carinho? Não o humilhas todos os dias e ainda Ihe amarguras a vida, graças à tua bondade e paciência? Não obrigas esse menino soberbo, mimado, a viver numa cabana junto com dois velhos comedores de bananas, para os quais o arroz já representa um quitute e cujo coração gasto, sereno, pulsa em outro ritmo que o dele? Não resulta tudo isso em constrangimento e punição?

Consternado, Sidarta baixou os olhos."

15 de mai. de 2011

Ensinamentos: Oito Versos que Transformam a Mente - com a palavra S.S. Dalai Lama




Vou agora ler e explicar brevemente um dos mais importantes textos sobre a transformação da mente, Lojong Tsigyema (Oito Versos que Transformam a Mente). Este texto foi composto por Geshe Langri Tangba, um bodisatva bastante incomum. Eu próprio o leio todos os dias, tendo recebido a transmissão do comentário de Kyabje Trijang Rinpoche.

1. Com a determinação de alcançar
O bem supremo em benefício de todos os seres sencientes,
Mais preciosos do que uma jóia mágica que realiza desejos,
Vou aprender a prezá-los e estimá-los no mais alto grau.

Aqui, estamos pedindo: "Possa eu ser capaz de enxergar os seres como uma jóia preciosa, já que são o objeto por conta do qual poderei alcançar a onisciência; portanto, possa eu ser capaz de prezá-los e estimá-los."

2. Sempre que estiver na companhia de outras pessoas, vou aprender
A pensar em minha pessoa como a mais insignificante dentre elas,
E, com todo respeito, considerá-las supremas,
Do fundo do meu coração.

"Com todo respeito considerá-las supremas" significa não as ver como um objeto de pena, o qual olhamos de cima, mas, sim, as ver como um objeto elevado. Tomemos, por exemplo, os insetos: eles são inferiores a nós porque desconhecem as coisas certas a serem adotadas ou descartadas, ao passo que nós conhecemos essas coisas, já que percebemos a natureza destrutiva das emoções negativas. Embora seja essa a situação, podemos também enxergar os fatos de um outro ponto de vista. Apesar de termos consciência da natureza destrutiva das emoções negativas, deixamo-nos ficar sob a influência delas e, nesse sentido, somos inferiores aos insetos.

3. Em todos os meus atos, vou aprender a examinar a minha mente
E, sempre que surgir uma emoção negativa,
Pondo em risco a mim mesmo e aos outros,
Vou, com firmeza, enfrentá-la e evitá-la.

Quando nos propomos uma prática desse tipo, a única coisa que constitui obstáculo são as negatividades presentes no nosso fluxo mental; já espíritos e outros que tais não representam obstáculo algum. Assim, não devemos ter uma atitude de preguiça e passividade diante do inimigo interno; antes, devemos ser alertas e ativos, contrapondo-nos às negatividades de imediato.

4. Vou prezar os seres que têm natureza perversa
E aqueles sobre os quais pesam fortes negatividades e sofrimentos,
Como se eu tivesse encontrado um tesouro precioso,
Muito difícil de achar.

Essas linhas enfatizam a transformação dos nossos pensamentos em relação aos seres sencientes que carregam fortes negatividades. De modo geral, é mais difícil termos compaixão por pessoas afligidas pelo sofrimento e coisas assim, quando sua natureza e personalidade são muito perversas. Na verdade, essas pessoas deveriam ser vistas como objeto supremo da nossa compaixão. Nossa atitude, quando nos deparamos com gente assim, deveria ser a de quem encontrou um tesouro.

5. Quando os outros, por inveja, maltratarem a minha pessoa,
Ou a insultarem e caluniarem,
Vou aprender a aceitar a derrota,
E a eles oferecer a vitória.

Falando de modo geral, sempre que os outros, injustificadamente, fazem algo de errado em relação à nossa pessoa, é lícito retaliar, dentro de uma ótica mundana. Porém, o praticante das técnicas da transformação da mente devem sempre oferecer a vitória aos outros.

6. Quando alguém a quem ajudei com grande esperança
Magoar ou ferir a minha pessoa, mesmo sem motivo,
Vou aprender a ver essa outra pessoa
Como um excelente guia espiritual.

Normalmente, esperamos que os seres sencientes a quem muito auxiliamos retribuam a nossa bondade; é essa a nossa expectativa. Ao contrário, porém, deveríamos pensar: "Se essa pessoa me fere em vez de retribuir a minha bondade, possa eu não retaliar mas, sim, refletir sobre a bondade dela e ser capaz de vê-la como um guia especial."

7. Em suma, vou aprender a oferecer a todos, sem exceção,
Toda a ajuda e felicidade, por meios diretos e indiretos,
E a tomar sobre mim, em sigilo,
Todos os males e sofrimentos daqueles que foram minhas mães.

O verso diz: "Em suma, possa eu ser capaz de oferecer todas as qualidades boas que possuo a todos os seres sencientes," — essa é a prática da generosidade — e ainda: "Possa eu ser capaz, em sigilo, de tomar sobre mim todos os males e sofrimentos deles, nesta vida e em vidas futuras." Essas palavras estão ligadas ao processo da inspiração e expiração.

Até aqui, os versos trataram da prática no nível da bodhicitta convencional. As técnicas para cultivo da bodhicitta convencional não devem ser influenciadas por atitudes como: "Se eu fizer a prática do dar e receber, terei melhor saúde, e coisas assim", pois elas denotam a influência de considerações mundanas. Nossa atitude não deve ser: "Se eu fizer uma prática assim, as pessoas vão me respeitar e me considerar um bom praticante." Em suma, nossa prática destas técnicas não deve ser influenciada por nenhuma motivação mundana.

8. Vou aprender a manter estas práticas
Isentas das máculas das oito preocupações mundanas,
E, ao compreender todos os fenômenos como ilusórios,
Serei libertado da escravidão do apego.

Essas linhas falam da prática da bodhicitta última. Quando falamos dos antídotos contra as oito atitudes mundanas, existem muitos níveis. O verdadeiro antídoto capaz de suplantar a influência das atitudes mundanas é a compreensão de que os fenômenos são desprovidos de natureza intrínseca. Os fenômenos, todos eles, não possuem existência própria — eles são como ilusões. Embora apareçam aos nossos olhos como dotados de existência verdadeira, não possuem nenhuma realidade. "Ao compreender sua natureza relativa, possa eu ficar livre das cadeias do apego."

Deveríamos ler Lojong Tsigyema todos os dias e, assim, incrementarmos nossa prática do ideal do bodisatva.

(Extraído de The Union Of Bliss And Emptiness.)

12 de abr. de 2011

Espiritualidade e Natureza - S.S. Dalai Lama


Penso que vocês vieram aqui com alguma expectativa, mas essencialmente eu nada tenho a oferecer-lhes. Quero simplesmente tentar compartilhar algumas de minhas próprias experiências e meus pontos de vista. Cuidar do planeta não é algo especial, algo sagrado, ou algo santo. É como cuidar de nossa própria casa. Não temos outro planeta ou casa a não ser este. Embora haja tantas perturbações e problemas, a nossa única alternativa é esta. Não podemos ir para outros planetas. Veja a lua, por exemplo, ela parece ou surge belamente à distância, mas se for viver lá, será horrível. E isto que eu penso. Então, o nosso planeta azul é muito melhor e mais feliz. Portanto, precisamos cuidar de nosso próprio canto, ou casa, ou planeta.

Afinal, o ser humano é um animal social. Freqüentemente digo aos meus amigos que eles não precisam estudar filosofia, estes assuntos profissionais complicados. Só de olhar estes animais, insetos, formigas, abelhas, etc. inocentes, eu desenvolvo com freqüência algum tipo de respeito por eles. Como? Porque eles não têm qualquer religião, qualquer constituição, qualquer força policial, nada. Mas vivem em harmonia através da lei natural da existência, ou da lei ou sistema da natureza.

O que há de errados em nós, seres humanos? Nós humanos temos inteligência e sabedoria humana. Penso que freqüentemente usamos a inteligência humana de maneira errada ou na direção errada. Como resultado, de certa forma, estamos fazendo certas ações que essencialmente vão contra a natureza humana básica.

De certo ponto de vista, a religião é, um pouco, um luxo. Se você tiver uma religião, ótimo; até sem religião você pode sobreviver e consegue manejar, mas sem afeto humano não consegue sobreviver.

Embora a raiva e o ódio, como compaixão e amor, sejam parte de nossa mente, eu ainda acredito que a força dominante de nossa mente é a compaixão e o afeto humano. Portanto, normalmente chamo estas qualidades humanas de espiritualidade, não necessariamente no sentido de uma mensagem religiosa ou religião. Ciência e tecnologia junto com afeto humano serão construtivas. Ciência e tecnologia sob o controle do ódio serão destrutivas.

Se praticarmos a religião corretamente, ou com sinceridade, podemos ver que a religião não é algo fora de nós, mas algo que está em nossos corações. A essência de qualquer religião é um bom coração. Às vezes chamo amor e compaixão de religião universal. Esta é minha religião. Uma filosofia complicada, isto ou aquilo, às vezes cria mais transtornos e problemas. Se estas filosofias sofisticadas forem úteis para o desenvolvimento do bom coração, então isto é bom: use-as inteiramente. Se estas filosofias ou sistemas complicados se tornarem um obstáculo para o bom coração, então é melhor deixá-las de lado. É assim que eu sinto.

Se olharmos atentamente para a natureza humana, vemos que o afeto é a chave para o bom coração. Penso que a mãe é um símbolo da compaixão. Todos nós temos uma semente do bom coração. O que importa é se cuidamos ou não de realizar o valor da compaixão.


(Um discurso feito no quarto dia do Simpósio Ecumênico de Middlebury sobre religião e o meio ambiente, Universidade de Middlebury, Vermont, EUA, de 14 de setembro de 1990. Traduzido por Marly Ferreira.)

28 de fev. de 2011

Recordações de minha adolescência

Tive o privilégio de estudar num colégio, que por mais que fosse de orientação católica, durante algum tempo, promoveu uma semana de interação religiosa. Nesta semana os alunos interessados podiam vivenciar ritos , cantos e expressões dos mais variados modos de nos encontrarmos com Deus. E nesse momento aprendi essas canções que me habitam até hoje.






14 de jan. de 2011

Nossa Missão Maior, por Dom Hélder Câmara

Que as sábias palavras de Dom Hélder possam nos colocar no caminho do amor, da paz e da compaixão em 2011. Que esta seja nossa missão primeira, nosso caminho maior, nossa bem-aventurança! Sempre! Salve!

"Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo".